segunda-feira, 14 de novembro de 2011



“Segundo a mitologia grega o Quíron era filho do titã Cronos e de Fílira, uma das oceânides. Crono uniu-se a Fílira na forma de um cavalo, daí o nascimento do filho em forma de centauro. Quíron não era, como outros centauros, selvagem, muito ao contrário era justo e sábio. Apesar de ser meio irmão de Zeus, Poseidon e Hades, vivia entre os mortais em uma gruta do monte Pélion. Os conhecimentos médicos, por ser ele o sábio que era, foram transmitidos aos mortais por ele, assim como outros conhecimentos.
Além de seus conhecimentos de medicina, também era exímio conhecedor de música, era caçador, conhecia as plantas medicinais e cirurgia. Era amigo dos heróis, além de educador de muitos deles. Pode-se dizer que Quíron foi o mais antigo professor na mitologia e de mitologia grega.
Certa vez foi atingido acidentalmente por uma flecha envenenada, em uma batalha do herói Héracles. A flecha produzia feridas incuráveis, sofrendo Quíron de dores horríveis e nem mesmo seus conhecimentos de medicina conseguiam curar as suas próprias feridas. As dores e seu desespero eram tamanhos que o Quíron renunciou a sua imortalidade, conseguindo, então, morrer, escapando do sofrimento terrível.”

Este é o mito do curador ferido, aquele que cura as feridas dos outros, mas, no entanto, não consegue curar as próprias feridas. O Quíron é o arquétipo do psicólogo, conseguindo curar as feridas dos outros, sem conseguir curar as próprias dores psíquicas. Assim somos nós, psicólogos ao olhar os outros, ajudando a tantos quantos nos procuram e nem sempre conseguindo olhar e resolver nossas próprias dores.

Hoje fui assistir ao filme "O Palhaço", do Selton Mello, aliás fantástico, me fez lembrar do Quíron. Ele é uma espécie de Quíron, fazendo rir, mas esperando quem o faça rir, quem cure as suas dores e tristezas. De certa forma, "O Palhaço", pode ser interpretado como o papel do psicólogo, que faz "rir", mas que nem sempre consegue rir, necessitando de outros que o façam rir, que o façam feliz.

As relações, intensas e tensas, mostradas no filme, mostram também a necessidade de cada um de nós em buscar uma identidade própria. "Gato gosta de leite, rato gosta de queijo, e eu sou Palhaço" (frase do filme, aliás a frase do filme), com esta frase o protagonista mostra a sua verdadeira busca de si mesmo. Foi vivenciando todo o confronto com seu lado sombra, triste e sem graça, embora cômico, que o Palhaço pode engendrar uma espécie de individuação. O mergulho se passa em cada momento poético, porém triste, do filme.

A paisagem árida, retrato de seu interior, as cores pasteurizadas relatando o seu inconsciente, as idas sem vindas, relatam a viagem só de ida ao centro de seu eu. O resgate? Sai individuado, descobrindo o Palhaço, que era, sem nunca ter se dado conta de que era.

Agora vá lá ver o filme e prestigiar mais esta obra prima do cinema brasileiro com a impecável atuação do Selton e do brilhante Paulo José.