terça-feira, 23 de novembro de 2010

SUBJETIVIDADE DO PROCESSO: REFLEXÕES TERAPÊUTICAS

Ao partir da periferia da vida de alguém rumo ao seu centro invoco, como analista, a capacidade do outro de encontrar em si o que lhe pertence: o processo. Processo que, como processo que é, faz da descoberta algo potencialmente eficaz nas escolhas norteadas invariavelmente pelas angústias. Angústia, dor de quem busca, nos encontros interiores e dores latentes, as verdades das quais necessitamos para viver a vida escolhida.
Quem dera escolhas não fossem angustiantes, posto que angústias prenunciam dores, mas é na dor que notamos nossas fragilidades. Fragilidades que, olhadas de perto, mostram a força necessária para reconhecê-las. Reconhecimento, ato nobre e digno da introspecção, feito auxílio de si mesmo, denotanto ato feito vida de olhar as entranhas.
Entranhas e vísceras, estranhas e míseras formas assumidas de ser buscador a ferro e fogo no fogo da vida que há e existe como força motriz, forjando o estado do indivíduo de criar um outro ser existente em mescla de roupa e fantasia. Roupa, que é fantasia do por vir, o vir a ser individual e coletivo, à mostra desnuda em pele e pelo, recoberta de projeções, objeções.
Isto é a vida, é a vida dentro do processo de análise. Vida que brota na subjetividade do reconhecer a si mesmo.

(imagem do quadro Las Meninas, de Pablo Picasso, 1957)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

POLITICAMENTE CORRETO ?


O Conselho Nacional de Educação (CNE) em um parecer publicado no DOU (Diário Oficial da União) da última sexta-feira, 31, sugere que a obra "Caçadas de Pedrinho", do respeitável Monteiro Lobato, não seja mais distribuída na rede pública de ensino. A certa altura do conto, Lobato se dirige à Tia Anastácia de maneira racista, isto tudo segundo o parecer do CNE.
Educar é preciso, sim, mas sem destruir a história, posto que julgar os costumes de uma época me parece por demais desolador. Creio, sempre, na educação reflexiva, aquela em que oferecemos ao outro a possibilidade de pensar e poder discernir em formas melhores de ação, partindo do referencial do momento em que algo foi escrito.
Com a "boa" intenção de não forjar pessoas preconceituosas, pode-se estar fomentando uma espécie de preconceito às avessas. Não se pode sair por aí acreditando que uma obra-prima da literatura infanto-juvenil brasileira possa colocar em dúvida o pensar do século XXI, isso é tão absurdo que me soa como piada de mau gosto.
A literatura reflete, como disse, os hábitos e costumes de uma época, não podemos negá-los. Podemos, devemos, isto sim, aproveitar para discutir como eram as atitudes, para olharmos como são e podermos preparar indivíduos cônscios de seus papéis na mudança do vir a ser do coletivo. Busca-se, assim, uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais humana, menos preconceituosa.
A Bíblia, sob o mesmo prisma do CNE, é carregada de relatos extremamente preconceituosos. O que faremos? Retiremos a Bíblia das catequeses e evangelizações? Será que o caminho da educação é este? Educar não é ampliar horizontes? O que estamos ensinando às nossas crianças? Será que o caminho é mesmo a censura e não a discussão?
Os defensores da censura dizem que "é preciso passar valores positivos". Desde quando há algo de positivo na censura? Em nome do politicamente correto, corremos o risco de nos tornarmos politicamente intransigentes...
E agora, José?