sexta-feira, 5 de novembro de 2010

POLITICAMENTE CORRETO ?


O Conselho Nacional de Educação (CNE) em um parecer publicado no DOU (Diário Oficial da União) da última sexta-feira, 31, sugere que a obra "Caçadas de Pedrinho", do respeitável Monteiro Lobato, não seja mais distribuída na rede pública de ensino. A certa altura do conto, Lobato se dirige à Tia Anastácia de maneira racista, isto tudo segundo o parecer do CNE.
Educar é preciso, sim, mas sem destruir a história, posto que julgar os costumes de uma época me parece por demais desolador. Creio, sempre, na educação reflexiva, aquela em que oferecemos ao outro a possibilidade de pensar e poder discernir em formas melhores de ação, partindo do referencial do momento em que algo foi escrito.
Com a "boa" intenção de não forjar pessoas preconceituosas, pode-se estar fomentando uma espécie de preconceito às avessas. Não se pode sair por aí acreditando que uma obra-prima da literatura infanto-juvenil brasileira possa colocar em dúvida o pensar do século XXI, isso é tão absurdo que me soa como piada de mau gosto.
A literatura reflete, como disse, os hábitos e costumes de uma época, não podemos negá-los. Podemos, devemos, isto sim, aproveitar para discutir como eram as atitudes, para olharmos como são e podermos preparar indivíduos cônscios de seus papéis na mudança do vir a ser do coletivo. Busca-se, assim, uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais humana, menos preconceituosa.
A Bíblia, sob o mesmo prisma do CNE, é carregada de relatos extremamente preconceituosos. O que faremos? Retiremos a Bíblia das catequeses e evangelizações? Será que o caminho da educação é este? Educar não é ampliar horizontes? O que estamos ensinando às nossas crianças? Será que o caminho é mesmo a censura e não a discussão?
Os defensores da censura dizem que "é preciso passar valores positivos". Desde quando há algo de positivo na censura? Em nome do politicamente correto, corremos o risco de nos tornarmos politicamente intransigentes...
E agora, José?