sábado, 2 de maio de 2009

REFLEXÃO PÓS DIA DO TRABALHO


Praticamente todos os dias em que estou em Botucatu, vejo um garoto nas ruas, aliás o vejo há vários anos, vendendo trufas preparadas por sua mãe. Parece ter uns 12/13 anos, ainda preciso perguntar a ele. O dinheirinho, minguado, deve ser para ajudar nas despesas de casa; sempre de bermudas, tênis e um olhar atento e humilde por trás dos óculos de grau forte. Ele não pode trabalhar formalmente, existem leis em nosso país proibindo, mesmo que seja para ajudar em casa. Dizem que lugar de criança é na escola.

Intrigado com o garoto, e a dura realidade, vou para minha casa, ligo a TV e vou ver mais um capítulo da novela. A realidade muda, saímos da realidade, vivemos a fantasia. Lá, na novela, existem leis paralelas e lá as crianças podem trabalhar, são jovens atores. Voltei para a realidade. Aquelas crianças da novela estão trabalhando, ou aquilo não é trabalho? São horas de gravação, textos decorados, dias fora da escola, mas o filho da mãe pobre tem que se sujeitar a vender trufas na rua. E se o conselho tutelar flagrar..., mas não pode trabalhar com dignidade e contrato de trabalho. Ah, tem bolsa família, então não pode vender trufa na rua!

País louco esse nosso, de leis diferentes de acordo com o que os verdadeiros detentores do poder querem: a mídia.

Intrigado, fico intrigado! Lá, na novela, aquilo não é trabalho, ou aquelas não são crianças? E se pegássemos as crianças da novela e devolvessemos às suas casas e déssemos à elas a graninha do bolsa família? Será? Não dá para melhorar as leis e fazer com que o menino das trufas possa trabalhar, pois ele precisa também? Embora seja ator de uma história diferente, ele não pode trabalhar.